Anatomia de uma Queda é um filme francês de suspense e drama, dirigido por Justine Triet e baseado no livro homônimo de Alice Zeniter. O filme conta a história de Sandra (Sandra Hüller), uma escritora alemã que é acusada de matar o marido Vincent (Swann Arlaud) em um chalé isolado na neve, onde viviam com o filho Daniel (Milo Machado Graner), que é cego. O filme acompanha o julgamento de Sandra, que tenta provar sua inocência, e as memórias de Daniel, que é a única testemunha do caso.
O filme foi indicado a cinco categorias do Oscar 2024, incluindo melhor filme, direção, roteiro original, atriz e ator coadjuvante. O filme recebeu elogios da crítica e do público, especialmente pela atuação de Sandra Hüller, que interpreta uma mulher complexa, contraditória e misteriosa, que oscila entre a fragilidade e a frieza, a culpa e a inocência, o amor e o ódio. Swann Arlaud também se destaca como Vincent, um homem violento, ciumento e obsessivo, que tem muitas questões com a vida profissional de Sandra. A “troca de papeis” de gênero esperado pela sociedade traz importantes reflexões em um momento de clímax no filme. Mas também temos que salientar o talento de Milo Machado Graner impressiona como Daniel, um menino inteligente, sensível e curioso, que tenta entender o que aconteceu com seus pais.
O filme também se sobressai pela fotografia e pela direção, que criam um clima de tensão, suspense e ambiguidade. O filme brinca com as perspectivas e não nos mostra qual é a verdade, deixando o espectador em dúvida sobre o que realmente aconteceu na noite da morte de Vincent. O filme provoca debates sobre quem é o culpado e quais são as implicações morais, jurídicas e psicológicas do caso. O filme também mostra como o filme fica maior depois dele, com o espectador discutindo qual é a verdade e se colocando no lugar dos personagens.
O filme de utiliza da técnica narrativa chamada Rashomon. Esse termo se refere ao filme homônimo de 1950, dirigido por Akira Kurosawa, que apresenta quatro versões diferentes e contraditórias de um mesmo evento: o assassinato de um samurai e o estupro de sua esposa. O filme foi inspirado em dois contos de Ryunosuke Akutagawa, e se tornou um clássico do cinema japonês e mundial.
Essa técnica explora a subjetividade e a relatividade da verdade, mostrando como cada personagem tem sua própria visão e interpretação dos fatos, influenciada por seus interesses, emoções e valores. O filme não oferece uma resposta definitiva sobre o que realmente aconteceu, deixando o espectador em dúvida e questionando sua própria percepção da realidade.
O Rashomon foi uma influência para muitos outros filmes que usaram a mesma técnica narrativa, como Cidadão Kane (1941), Os Suspeitos (1995), Amnésia (2000), 21 Gramas (2003), entre outros. No tempo da pós verdade, onde a verdade não importa e sim a narrativa mais aprazível para quem a interpreta, esse filme chega em um momento certeiro.
Anatomia de uma Queda é um filme que envolve, surpreende e desafia o espectador, que não consegue ficar indiferente à trama e aos personagens. O filme é uma obra que mistura suspense, drama, romance e mistério, e que nos faz questionar sobre a natureza humana, a justiça, a verdade e a mentira. O filme é uma adaptação fiel e bem-sucedida do livro de Alice Zeniter, e um dos melhores filmes da corrida do Oscar.