Assim como qualquer outra mídia, estabelecer uma narrativa eficaz dentro das Histórias em Quadrinhos exige o uso de algumas ferramentas características, como grid, simbolismo, coloração, roteiro e a escolha do que será mostrado em texto, desenho ou do que ficará para o imaginário do leitor. “X-Men: Deus ama, o homem mata” faz isso muito bem.
A obra escrita por Chris Claremont e desenhada por Brent Eric Anderson, tem como fonte motora de seu roteiro – o que aproxima o leitor da obra – o extremismo religioso ante minorias, situação aqui contraposta por William Stryker e a mutandade. Contudo, para realizar essa aproximação de maneira eficaz, todas as outras ferramentas dos quadrinhos se fazem presente.
Ao que se refere ao Grid, a formatação utilizada pelo quadrinho não se contém ao padrão de cenas por quadros em quantidades repetitivas e padronizadas, muito pelo contrário. A obra, mesmo que utilize uma quantidade extensa de quadros, oferta uma variação de formatos e cenas, como por exemplo, um tiro de bazuca ou acidente de carro que “atravessam” de um quadro para outro.
O que ajuda e muito na formatação escolhida é o uso da palheta de cores, que em sua maioria opta por tons pasteis, mas intensifica o uso de azul e preto, para reproduzir um cenário crepuscular, vermelho, evocando um pesadelo, onde os x-men crucificam Charles Xavier e marrom, a fim de representar uma memória de Stryker. Tais escolhas possibilitam que o leitor sinta as cenas.
Perante ao simbolismo, o uso de itens religiosos, como a cruz e a presença voraz dos meios televisivos, visto que a comunicação de massa é utilizada como arma pelo antagonista, são pontos que merecem destaque. O primeiro, oferta a dualidade de algo “bom”, tendo função negativa e o segundo como ferramenta do discurso utilizado pelo mesmo.
No entanto, o que pode ser visto como algo negativo é o uso excessivo de explicações textuais, ato frequente nos textos de Claremont, e que não abre tanto espaço para exercitar o imaginário de quem está lendo o material.