Resenha de Torto Arado, de Itamar Vieira Junior

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Imagine-se em um pedaço do Brasil profundo, onde a terra é mais do que solo e plantações – é a própria vida, a história de gerações. Torto Arado, de Itamar Vieira Junior, é uma obra que nos leva diretamente ao coração desse Brasil rural, trazendo à tona a luta, a dor, e a resiliência de quem vive da e para a terra.


Torto Arado, de Itamar Vieira Junior
Capa de Torto Arado, de Itamar Vieira Junior

Editora: Todavia
264 páginas

Sinopse:

Um texto épico e lírico, realista e mágico que revela, para além de sua trama, um poderoso elemento de insubordinação social. Vencedor do prêmio Leya 2018. Nas profundezas do sertão baiano, as irmãs Bibiana e Belonísia encontram uma velha e misteriosa faca na mala guardada sob a cama da avó. Ocorre então um acidente. E para sempre suas vidas estarão ligadas ― a ponto de uma precisar ser a voz da outra. Numa trama conduzida com maestria e com uma prosa melodiosa, o romance conta uma história de vida e morte, de combate e redenção.


A narrativa de Torto Arado se desenvolve a partir dos pontos de vista alternados de Bibiana e Belonísia, duas irmãs que crescem em uma comunidade quilombola no interior da Bahia. Desde o início, somos imersos em uma história profundamente enraizada nas tradições, crenças e realidades da vida no campo. A linguagem de Itamar é poderosa, carregada de significados e sutilezas, que capturam com precisão o universo das personagens.

O livro não apenas relata as dificuldades enfrentadas pelas irmãs, mas também oferece um estudo detalhado da vida rural, algo que muitos brasileiros – especialmente aqueles cujos avós e avôs viveram durante os anos 90 – reconhecerão. A realidade de viver da roça, com suas alegrias e sofrimentos, é retratada de forma vívida, fazendo com que muitos leitores se identifiquem com as histórias contadas, ou pelo menos com as memórias de histórias semelhantes compartilhadas por seus próprios familiares.

O tema da resiliência é central em Torto Arado. As existências das personagens pretas e indígenas retratadas no livro são marcadas por uma força interior que é passada de geração em geração, uma resistência que se expressa tanto na luta cotidiana pela sobrevivência quanto na manutenção das tradições e cultura. Itamar Vieira Junior pinta um retrato honesto e emocionante dessas vidas, sempre com um respeito profundo pela história e pela dignidade dos povos que ele retrata.

O Brasil profundo em Torto Arado – Opinião – CartaCapital

O livro emociona não apenas pela sua prosa envolvente, mas também pelos “causos” – as histórias dentro da história – que Itamar costura ao longo da narrativa. Essas pequenas histórias são como retratos dentro de um álbum, cada uma oferecendo um vislumbre de uma vida, uma luta, um amor. No entanto, ao chegar ao final, o leitor pode sentir uma certa frustração. A falta de um desfecho claro deixa algumas pontas soltas, uma sensação de que a história continua, mas sem que saibamos exatamente como.

Apesar disso, Torto Arado é uma obra poderosa e inesquecível, que merece ser lida e discutida. É um livro que resgata a história e a cultura de um Brasil muitas vezes esquecido, e que toca profundamente aqueles que se permitem mergulhar em suas páginas. Se você está em busca de uma leitura que vai além do entretenimento e oferece um mergulho profundo na alma do Brasil, Torto Arado é uma escolha imperdível.

Caíque Apolinário
Caíque Apolináriohttp://bookstimebrasil.com.br
(elu/delu - ele/dele) Escritor de quatro livros de ficção cientifica e host de alguns podcasts do portal. Viciado em café, multi tarefas e o suporte de toda a equipe.

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