Resenha de Hotel Termush, de Sven Holm

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O mundo acabou. Bombas caíram, radiação contaminou tudo, a civilização colapsou. Mas dentro do Hotel Termush, há champanhe gelada, refeições quentes e camas confortáveis. Afinal, o apocalipse também tem classe social, não é mesmo?


Editora Aleph Resenha de Hotel Termush, de Sven Holm
163 Páginas

Sinopse:

O apocalipse é realidade; o mundo está devastado. Contudo, para um grupo de super-ricos, a contaminação externa é apenas uma inconveniência, já que todos reservaram quartos com antecedência e estão abrigados no luxuoso Hotel Termush, um resort costeiro que oferece música ambiente, farta comida e muita diversão.

Do lado de fora, a poeira cobre o que restou, enquanto pássaros continuam a cair mortos do céu. No Termush, porém, a vida segue sem preocupação. Quer dizer, até que outros sobreviventes começam a ser encontrados para além dos portões. A gerência passa, então, a censurar notícias e sedar hóspedes — a generosidade inicial parece estar terminando.

Clássico incontornável da narrativa pós-apocalíptica, Hotel Termush é a obra mais conhecida da ficção científica nórdica. Publicado em 1967, trabalha de maneira ímpar ideias de privilégio, pertencimento e, sobretudo, compaixão.


Sven Holm nos apresenta a um grupo de privilegiados que pagou caro para sobreviver em um bunker de luxo enquanto o resto da humanidade perece lá fora. O dinamarquês cria uma narrativa profundamente introspectiva, onde o verdadeiro horror não são os zumbis ou mutantes batendo na porta, mas sim, o silêncio ensurdecedor da consciência dos hóspedes.

O livro é pequeno, denso e contemplativo. Holm disseca o privilégio com precisão cirúrgica: o que significa ter recursos quando o dinheiro não vale mais nada? Como justificar o conforto quando há pessoas morrendo do lado de fora? A compaixão ainda existe quando sua sobrevivência está em jogo? Estas perguntas ecoam página após página, sem respostas fáceis.

Resenha de Hotel Termush, de Sven Holm

Todavia, quem espera ação ou exploração detalhada daquele mundo pós-apocalíptico ficará frustrado. Holm deliberadamente mantém o foco interno, quase claustrofóbico. Faltam conflitos externos mais desenvolvidos, batalhas pela sobrevivência ou mesmo uma construção de mundo mais elaborada. O que acontece além dos muros do hotel? Como exatamente o mundo acabou? Holm não parece muito interessado em responder.

Alguns leitores podem achar isso uma falha. Mas talvez seja justamente o ponto. O autor nos força a ficar naquele espaço sufocante, sentindo o peso moral junto com os personagens. A narrativa é mais filosófica que aventureira, mais Sartre que Mad Max.

O final contemplativo amarra perfeitamente a proposta de Holm. Não há grandes reviravoltas ou explosões, apenas uma reflexão devastadora sobre humanidade, culpa e escolhas impossíveis. É um desfecho que te deixa olhando para o vazio, pensando.

Hotel Termush não é sobre sobreviver ao apocalipse. É sobre sobreviver com você mesmo depois dele. E talvez isso seja mais assustador que qualquer radiação.

Caíque Apolinário
Caíque Apolináriohttp://bookstimebrasil.com.br
(elu/delu - ele/dele) Escritor de quatro livros de ficção cientifica e host de alguns podcasts do portal. Viciado em café, multi tarefas e o suporte de toda a equipe.

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