E se o conhecimento fosse proibido? E se a tecnologia que nos trouxe até aqui fosse a mesma que nos destruiu? Leigh Brackett nos joga em um futuro pós-apocalíptico onde a humanidade decidiu que o progresso… Bom, talvez não valha a pena.
Editora Aleph 
344 Páginas
Sinopse:
Quando uma guerra nuclear obriga os humanos sobreviventes a se agrupar em comunidades rurais restritas, a população passa a viver da terra e a colher da palavra divina. Temerosos, os Estados Unidos incluem uma emenda à Constituição que proíbe a formação de grandes cidades e que, por consequência, execra toda tecnologia que não for mais do que necessária. Rádios, televisões, veículos e eletricidade tornam-se apenas memórias de outro tempo.
Incitado pelas provocações do primo e pelas histórias da infância da avó, o pequeno Len Colter decide descobrir quais são os segredos desse passado não tão distante que os mais velhos protegem sussurrando ― e até matando. Contudo, o caminho do transgressor é sempre o mais longo e difícil. Será preciso atravessar regiões inóspitas e enfrentar realidades violentas em busca de uma cidade proibida de que o garoto apenas ouviu falar, cuja existência sequer tem certeza de ser verdadeira.
Publicada por uma das pioneiras da ficção científica em 1955, mestra direta de Ray Bradbury, esta obra ressoa a ameaça nuclear que assombrou o mundo no século 20 e prova que a solução para uma pessoa sair das ruínas por vezes é ir contra aquilo em que ela acreditou durante toda a vida.
O Longo Amanhã nos apresenta um mundo que sofreu com a devastação das bombas atômicas e, como resposta, criou uma sociedade que proíbe qualquer avanço tecnológico. As seitas religiosas dominam politicamente, controlando com mãos de ferro o que pode ou não ser estudado, pesquisado, desenvolvido. E é aqui que Brackett mostra toda sua genialidade: ela não retrata vilões caricatos, mas sim, uma estrutura de poder que se alimenta do medo genuíno das pessoas.
O protagonista Len Colter é um jovem idealista, curioso e inquieto. Ele quer saber mais, quer entender o que foi perdido, quer acreditar que a humanidade pode ser melhor. Todavia, sua busca por conhecimento o coloca em rota de colisão com as autoridades que zelam pela “segurança” de todos. A narrativa nos faz questionar: até onde vai nossa liberdade quando o preço pode ser a extinção?
O que mais impressiona é como Brackett captura o pensamento estadunidense em sua essência – aquela tensão entre liberdade individual e segurança coletiva, entre progresso e conservadorismo. As seitas no livro não são apenas elementos fantásticos; elas representam como o fanatismo político-religioso pode se enraizar quando o povo está assustado e desesperado por respostas simples.

A autora equilibra perfeitamente o idealismo juvenil com a brutal realidade. Len descobre que nem sempre a verdade liberta, e que às vezes, o amanhã que tanto desejamos pode ser tão sombrio quanto o presente que tentamos escapar. A curiosidade, tão humana e necessária, encontra barreiras que não são apenas externas, mas também internas.
O Longo Amanhã é uma distopia que não envelheceu nem um pouco. Em tempos onde verdades científicas são questionadas e o obscurantismo ganha força, Brackett nos lembra: o medo é uma arma poderosa. Mas será que vale a pena trocar nossa humanidade pela sensação de segurança?


