Você pega um livro de ficção científica esperando viagens no tempo, paradoxos temporais e ação frenética. Mas e se o que você ganhar for… Um romance? Pois é exatamente isso que Kaliane Bradley faz em O Ministério do Tempo, e surpreendentemente, funciona muito bem.
Editora Rocco 
320 Páginas
Sinopse:
Uma funcionária pública se torna parte de um projeto experimental secreto: trabalhar como “ponte” ― uma conexão, uma auxiliar e uma colega de quarto ― de expatriados do tempo, retirados de diferentes momentos do passado direto para o século XXI. Esta é uma história de ficção científica.
Na década de 2020, em um esconderijo de segurança máxima (disfarçado como uma casa comum de Londres), o desorientado explorador vitoriano Graham Gore fuma sem parar enquanto ouve sonatas no Spotify e descobre exatamente o que significa a expressão “politicamente incorreto”. Esta é uma história de comédia.
Durante um verão longo e abafado ― e à medida que o tempo deles se aproxima do fim ―, os dois se apaixonam, contra todas as probabilidades. Esta é uma história de amor.
O livro nos apresenta a um projeto governamental secreto que traz pessoas do passado para o presente. Entretanto, ao invés de explorar as implicações científicas ou criar tramas elaboradas sobre alterações temporais, Bradley escolhe um caminho mais íntimo: o relacionamento entre a protagonista e seu “expatriado temporal”. E é aqui que a autora brilha.
A escrita é fluída e dinâmica, com diálogos espirituosos que te fazem sorrir página após página. Bradley constrói a química entre o casal principal com paciência e delicadeza, fazendo você torcer genuinamente por eles. O desenvolvimento dos personagens é rico, suas vulnerabilidades são palpáveis, e o romance não parece forçado ou artificial. Por longos capítulos, você quase esquece que está lendo ficção científica.
A narrativa flui como um bom drama romântico contemporâneo. Discussões sobre choque cultural, adaptação, identidade e pertencimento permeiam a história de maneira orgânica. A protagonista é cativante, imperfeita e real, lidando com seus próprios demônios enquanto ajuda alguém de outra época a se adaptar ao século XXI.

Todavia, quando o livro finalmente decide lembrar que é ficção científica, tudo acontece de forma um tanto apressada. O final é corrido, quase como se Bradley tivesse um prazo para entregar e precisasse amarrar as pontas soltas rapidamente. Aquela tensão e suspense que deveriam estar presentes desde o início chegam apenas nas páginas finais, deixando um gostinho de “poderia ter sido melhor desenvolvido”.
O Ministério do Tempo não é o livro de ficção científica que você espera, mas talvez seja o que você precisa. É divertido, envolvente e tem coração. Só não espere respostas complexas sobre viagem temporal – espere, sim, um romance bem escrito que acontece ter viagem no tempo como pano de fundo.


